As palavras são líquidas, de água. As palavras são aquáticas, onde podemos mergulhar, nadar no seu silêncio. O mar é sobretudo silencioso, assim é a escrita única, secreta, profunda. Por vezes as palavras agitam-se como ondas, por outras são serenas, como o mar iluminado pela breve luz da lua, à noite. Amanhece. Escrever o mar é tornar-se o seu segredo, as suas profundezas, a sua história, a sua confissão. Há navios que atravessam as palavras, homens no cais que assistem à sua imensidão evidente. Tudo é transitório, cíclico, geométrico. As palavras são de água, escapam-nos das mãos, é impossível segurá-las. Escrever o mar é assistir à imprevisibilidade e ao poder de renovação das palavras.

Francisco José Viegas