Dizem que as gaivotas daqueles anos voaram imprudentes,
e que o ritmo nas asas se fez antigo e literário,
em certezas e cansaços que nem lembra o diabo.
Eram voos sem idade, sem espaço para o acaso:
negavam as formas redondas da terra e ferviam
em tudo o que era geometria
(coisa invulgar, mesmo nos pássaros,
medir assim coisas, ângulos e alegrias)
num voo vivo e cristalino,
contra o pote.
Dizem que era um destino insistente
e que havia laterais sossegos,
inesperadas compensações humanas
nas asas daquelas aves
(alguma acalmia, em forma de simpático pão).
Não houve paz, não houve guerra, tudo passou noutro sangue.
e as gaivotas voaram, sempre.
Fantásticas,
livres,
e obedientes.
Rui A.