Toco Haydn depois de um dia sombrio
e sinto um calor simples nas mãos
Há um querer nas teclas. Brandos martelos batem.
O som é verde, tranquilo e animado.
O som afirma que a liberdade existe
e que alguém não paga a César os impostos
Enfio as mãos nas minhas algibeiras de Haydn
imito alguém a olhar o mundo calmamente.
Iço a bandeira de Haydn -- quer dizer:
Nós cá não nos rendemos. Mas queremos paz.
A música é uma casa de vidro no declive
por onde pedras voam, pedras rolam.
E as pedras atravessam as vidraças
mas cada vidro vai ficando intacto.
Tomas Tranströmer, trad. Vasco Graça Moura
Allegro
Publicado em 16 de Dezembro de 2017