Nada de novo -- repete ele. Os homens matam-se ou morrem,
sobretudo envelhecem, envelhecem, envelhecem -- os dentes,
os cabelos, as mãos, os espelhos.
Aquele vidro do candeeiro, quebrado -- foi consertado com um jornal.
E o pior de tudo: quando aprendes que algo vale a pena, já passou.
Então se faz uma grande serenidade. Chega o verão. As árvores
são altas e verdes -- muito provocantes. As cigarras cantam.
À tardinha, as montanhas azulecem. Lá de cima descem
homens obscuros. Coxeiam ladeira abaixo (fingem que coxeiam).
Lançam cães mortos ao rio, e depois, muito tristes e como que irritados
dobram os sacos de linho, coçam os testículos e olham a lua
na água. Somente essa coisa inexplicável:
fingirem-se de coxos, sem que ninguém esteja a vê-los.

Yannis Ritsos, trad. José Paulo Paes