De que tenho medo? Eu, que tenho parte
com o infinito.
Eu, que tenho parte com a força ingente da
totalidade, mundo só, entre milhões de mundos,
como estrela de primeira grandeza que afinal
se apaga.
O triunfo de viver, o triunfo de respirar,
o triunfo de existir!
O triunfo de sentir o tempo gélido a escorrer
nas artérias,
de ouvir a enxurrada silenciosa do tempo
e de pisar a montanha sob o Sol.
Caminho no Sol, piso o Sol,
não sei de mais nada além do Sol.
Tempo -- transformador, tempo -- destruidor,
tempo -- encantador,
vens carregado de novas tramas, mil artimanhas,
para me propor outra existência
como sementinha, cobra enrodilhada, atol em pleno
oceano?
Tempo -- tu, assassino -- afasta-te de mim!
O Sol enche o meu peito de um doce mel até
transbordar e diz-me:
"Um dia, todas as estrelas hão de se apagar, mesmo
assim elas brilham sempre sem medo."

Edith Södergran, trad. Luciano Dutra