Sempre fui ímpio, do melhor dos sonhos ao mínimo que lembro.
E nisso encontro alguns orgulhos que me salvam do desastre,
na análise da vida terrestre.

Houve sempre, desde o Secundário,
assomos meio rebeldes, quase heróicos
(dedo médio ao alto e virado ao quadro);
e o ajustar de contas com deuses etruscos
ou outros, para lá do calibre e conhecimentos.
Eu era muito inteligente, e estou certo de que também o eras,
nomeadamente por saberes disso.

Passada essa idade de algum modo heróica
chegou a licenciatura, e suponho que também tu tenhas
aumentado qualificações
(que gaita, não me lembrar agora do teu nome).

Deves lembrar-te do Diniz, aquele das fintas maradas.
Era lixado para a porrada, e todos queríamos
que não desgostasse de nós.
Contra os prognósticos da altura,
as coisas não lhe correram especialmente bem,
e a traição da Rosa, que o trocou por ninguém
(suprema humilhação)
não deve ter ajudado.

Lembro-me de tudo e mais alguma coisa, amigo meu,
nestas coisas pequeninas se vê
como foram especiais os tempos que vivemos
com nosotros.

Passaram alguns anos, e é evidente
que a civilização ocidental vai entre a dor de dentes e a fome em África.

É cada vez mais difícil falar disso,
mas falar disso é falar de nós, amigo meu.

E que saudades tinha eu,
de falar contigo.

Rui A.