Seguem todos com um lugar na cabeça.
Um lugar pode ser um filho por nascer
uma mãe moribunda, uma taberna que
se abre sórdida ao nosso desejo em flor.

Seguem todos com o peso tremendo
dos lugares contra os vidros do comboio.
Lá fora a noite mostra-lhes os dentes indecifráveis
e sorri sobre o corpo morno da locomotiva.

Eu sigo dentro. Fecho os olhos diante
dos rostos que procuro arredar de mim.
Na solidão dos vagões abro os olhos para fora:

Não há caminhos, não avisto luz nas veredas
sob os montes há apenas as vozes dos lugares
e o peso que o amor faz sobre os trilhos.

Bruno M. Silva