Boa noite, fiel amigo
oxalá estejas bem,
alguma agitação em casa.
Faltando as palavras,
pareceu-me bem desdobrar em linhas várias
(para ocupar mais espaço),
a carta que te escrevo.
Parece de meio-velho, este relato postal
(seguramente estranho, reconheço,
em quem caminha ainda para cinquenta e seis)
mas não para ti.
Bem sabes como comigo tudo surgiu
depois do tempo comum:
do primeiro cigarro ao beijo na boca,
já nos catorze.
Mas era um dia vestido de azul claro, aquele:
quando descobri como,
para lá de palácios viáveis
e poder aquisitivo,
contacto com os célebres,
primeiras edições...
... valia outra espécie de coisas.
Acho que nunca te disse
daquele campeonato do mundo de carica que organizei
e fiz sozinho,
algures na Beira Baixa.
No mais belo local do mundo
(Nave Pequena, um pouco acima de Sobreira Formosa
- outro Oceano).
Com a selvagem tia Emília por perto,
nunca te falei dela
(e fica para outra).
Delícia.
Tirei apontamentos, e tinha na altura caracóis,
e era louro,
e conquistei todos os lugares do pódio.
Hoje bebo vinho.
Rui A.
Carta a Arnaldo Antunes
Publicado em 14 de Abril de 2020