Se digo mãe, digo Itália; se digo avó, digo ilha,
 se digo bisavô, digo Galiza; se digo trisavó, digo França
 um tetravô na Grécia outro em Damasco;
 um perdido na Índia cigana outra nas ruas da Palestina, 
 se chegar aos décimos avós sou de todos os lugares,
 venho de todas as origens, concebido em todas as religiões;
 venho de um pirata e seguramente de uma puta,
 de um marajá e de uma cortesã, uma geisha 
 e um traficante de sedas; uma amazona das estepes 
 e um boiardo; um vizir e uma poeta, 
 família de assaltantes nos idos dos avós doze, 
 marinheiros das austrálias, perdidos nos infernos
 de ser gente do mundo e no mundo parental
 chego depois de várias incidências
 a esta Lisboa remodelada; na Mouraria um primo
 outro no Quartier, uma prima no Magrebe
 outra em Moscovo e mais uma no Congo
 e milhares no Brasil, o meu ADN é o mundo, 
 as minhas células do universo
 sou um homem feito de mulheres em verso. 
 Nas minhas veias há um refugiado profundo
 Afinal onde está o meu berço?
Casa dos Mundos Irrepetíveis
Publicado em 15 de Junho de 2020