No estranho sol inexpressivo da vitória, mal nos conseguíamos sentir a nós mesmos. Falámos com surpresa, ali sentados no vazio, apalpando as nossas vestes brancas, duvidando da nossa própria capacidade de compreender ou de saber quem éramos. Os ruídos dos outros eram irreais, um zumbido nos ouvidos, como se num sonho ou dentro de águas profundas. O espanto de ver a vida continuar dominava-nos, mas não sabíamos como fazer essa dádiva contar. Foi difícil para mim em particular, porque, como a minha visão era nítida, não via as feições dos homens -- captava sempre a sua verdade viva, imaginando interiormente a realidade espiritual disto ou daquilo. Naquele dia, todos os homens tinham realizado os seus desejos, realizando-se neles também, e assim haviam perdido o sentido.
T. E. Lawrence, in Os Sete Pilares da Sabedoria, trad. Alda Rodrigues e Marta Mendonça