Leio ovídio para te cantar; evoco
a ilíada para te raptar; demoro-me
pela bíblia, quando salomão
se embriaga com os lábios da amada,
para sentir a tua pele; e abro o livro
dos teus lábios onde se imprimem
os teus murmúrios, ouvindo-os
cair numa taça de versos. Passo
cada página com os dedos abertos
da mão que folheia as páginas
que me dás, demorando-me
em cada linha e em cada sílaba,
sem querer chegar ao fim. E
dás-me o teu sorriso,
a branca colina dos teus seios,
um desaguar de desejo
no estuário das tuas coxas, lenta
e ágil como as aves da primavera.

Nuno Júdice