Os laços entre uma pessoa e nós só existem no nosso pensamento. A memória, ao enfraquecer, afrouxa-os, e apesar da ilusão com que gostaríamos de ser enganados e com que, por amor, por amizade, por delicadeza, por respeito humano, por dever, enganamos os outros, é sozinhos que existimos. O homem é o ser que que não pode sair de si, que só em si conhece os outros e que quando diz o contrário mente. Eu teria tanto medo de que, se o pudessem fazer, me tirassem aquela necessidade dela, aquele amor por ela, que me persuadia de que este amor era precioso para a minha vida.
Marcel Proust, in Em busca do tempo perdido, vol. VI, A fugitiva, trad. de Pedro Tamen