O outono
 por assim dizer
                    pois era verão
 forrado de agulhas
 a cal
 rumorosa
 do sol dos cardos
 sem outras mãos que lentas barcas
 vai-se aproximando a água
 a nudez do vidro
 a luz
 a prumo dos mastros
 os prados matinais
 os pés
 verdes quase
 o brilho
 das magnólias
 apertado nos dentes
 uma espécie de tumulto
 as unhas
 tão fatigadas dos dedos
 o bosque abre-se beijo a beijo
                        e é branco

Eugénio de Andrade