Mais do que uma casa era um refúgio
forrado de livros, gravuras e mesmo
alguns retratos. O fragor do mar
não colidia com o canto da lareira
e a impaciência de Xavier, o siamês.
Rimbaud andou por lá, voando nas dunas,
os pescadores extasiados
do seu perfil motorizado. Havia quem
roubasse amoras para o serão
e os que em sigilosas noites
chegavam a coberto das escarpas
do Porto Batel. A casa
continua lá, habitada pela memória desolada
de quem partiu. O quintal abriga
peregrinos, o vento, vegetação rasteira
e o jogo ardiloso de dois amantes.
Eduardo Pitta
Mais do que uma casa
Publicado em 10 de Janeiro de 2021