Penso que sim, que o verso
desejado é o que mais resiste
ao vendaval da letra, que
a dor mais rente a tudo
a que se insiste e vive
no bolso do poeta.
Penso que sim, que ao pôr
a mão no bolso, de lá tirando
a dor em vez de rebuçado,
berlinde de mil cores
ou minúsculo
fósforo quebrado,
esse dirá também: Penso que sim.
Que as coisas se repetem
infinitas em círculo de lua,
que a minha dor, não sendo
igual à tua, é rente
a bolso igual.
Assim existo. Porque penso
mal, já que pensar que sim
em negação
é forma de negar
inevitável conta de hospital
após doença longa em quarto
a flores.
[E todavia, às vezes,
bem no fundo
do bolso:
cristalizado mundo.
Minúsculo berlinde
a cores.]

Ana Luísa Amaral