Há palavras que vos poriam doentes
Palavras conhecidas mas muito perigosas de manejar
A não ser que sejam rodeadas de música
Também há quem meta açúcar nas amêndoas amargas
Palavras como areia, erva
Como sol, como deitados lado a lado
Como pele dourada, como cabelos louros
Como dentes brilhantes e lábios salgados
E depois outras palavras, ainda mais perigosas
«Ninguém à vista, podemos seguir»
E as mais perigosas de todas:
«É ainda melhor à quinta vez.»
Felizmente, que há carradas de aeronaves
A fabricarem fenomenologia a granel
E a meterem-vos bombas atómicas de atravesso pela goela...
Peço desculpa... o sopro da inspiração...
Não é todos os dias que a musa nos visita.

Boris Vian