Os espinhos são a minha linguagem.
Anuncio a minha existência
com um toque de sangue.

Estes espinhos já foram flores.
Odeio os amantes que se traem.
Os poetas abandonaram os desertos
e regressaram aos jardins.
Só os camelos permanecem aqui e os comerciantes
que transformam as minhas flores em pó.

Um espinho por cada rara gota de água.
Não sou uma tentação para as borboletas.
Nenhum pássaro canta em meu louvor.
Não sou responsável por nenhuma seca.

Crio outra beleza,
para além do luar,
deste lado dos sonhos,
uma afiada e penetrante
linguagem paralela.

K. Satchidanandan, trad. Jorge Sousa Braga