Construo minha casa com a argamassa
dos dias cinzentos e coloridos. Inicio
pelo detalhe de viver e ter a certeza
da necessidade da construção.

Cerco o terreno em flores e crio
frutos proibidos: minha alimentação
enquanto a obra avança ao teto.

Obro portas e janelas oxigenadas
ao interior dos ranços trazidos.

Refaço os móveis na quantidade
dos dias em que morarei na casa
acerto na macieza do assento a saliência
do colchão e na tepidez da pedra o correr
da água na escuridão do quarto.

Completo a mudança
e me retiro: toda casa prende
os corpos em martírio.

Pedro Du Bois