Sentado no banco cinzento
 entre as alamedas sombreadas do parque.
 Ali sentado só, àquela hora da tardinha,
 ele e o tempo. O passado certamente,
 que o futuro causa arrepios de inquietação.
 Pois se tem o ar de ser já tão curto,
 o futuro. Sós, ele e o passado,
 os dois ali sentados no banco de cimento.
 Há pássaros chilreando no arvoredo,
 certamente. E, nas sombras mais densas
 e frescas, namorados que se beijam
 e se acariciam febrilmente. E crianças
 rolando na relva e rindo tontamente.
 Em redor há todo o mundo e a vida.
 Ali está ele, ele e o passado,
 sentados os dois no banco de frio cimento.
 Ele a sombra e a névoa do olhar.
 Ele, a bronquite e o latejar cansado
 das artérias. Em volta os beijos húmidos,
 as frescas gargalhadas, tintas de Outono
 próximo na folhagem e o tempo.
 O tempo que cada qual, a seu modo,
 vai aproveitando.

 Rui Knopfli