Terrível é a borda, não o abismo.
Na borda
há um anjo de luz no lado esquerdo,
um longo rio escuro no direito
e um estrondo de trens que abandonam os trilhos
rumo ao silêncio.
Tudo
quanto treme na borda é nascimento.
Somente da borda se vê a luz primeira
o branco-branco
que nos cresce no peito.
Nunca somos mais homens
que quando a borda queima nossas plantas desnudas.
Nunca estamos mais solitários.
Nunca somos mais órfãos.

Piedad Bonnett