Casámos no verão, trinta anos atrás. Desde esse dia que te amo
profundamente. Amei outras coisas também.
Entre elas, a ideia da liberdade das mulheres. Por que coloco estas
palavras lado a lado? Porque o casamento não é
liberdade. Porque cada palavra que escrevo é contra a poesia de amor.
A poesia de amor não pode fazer justiça a isto. Esta é a recordação de uma
história dentro de outra história distante: um grande rei perdeu uma guerra e os seus inimigos
obrigaram-no a desfilar acorrentado pela cidade. Provocaram-no. Trouxeram
a mulher e os filhos - e ele não demonstrou qualquer emoção. Trouxeram
os seus cortesãos - e ele não demonstrou qualquer emoção. Trouxeram
o criado mais velho - só então ele se descaiu e chorou. Não encontrei
a minha feminilidade nas servidões do costume. Mas vi a minha
humanidade ali a olhar para mim. É para assinalar as contradições diárias
do amor que escrevi isto. Contra a poesia de amor.

Eavan Boland