Sonhava, quando era jovem, passear
perto do mar de Inverno com a amada.
Hoje, é ele o Inverno
e dentro de si leva a fria névoa.
Caminha sozinho e vê as raparigas
passeando sonhadoras sem o verem.
Costumamos pensar que o Inverno virá um dia
junto a uma chaminé, numa casa
de quartos com camas altas e janelas
de vidros embaciados em frente às vinhas.
Mas certa noite está frio, começa a chover
e a chuva nas ruas rasura as lâmpadas,
e vemos nos cafés, atrás dos vidros,
como os outros sorriem ao abrigo
da chuva, do frio e da noite.
E então entra, mas à sua mesa
acompanha-o o frio, não há ninguém
para lá do absurdo monólogo da chuva.
E pensa no sorriso
das mulheres que perdeu, alegre
de as ter amado. Entre as mesas
vê de novo as ruas na Primavera,
e as folhas dos plátanos e aqueles bares
com passeios de mármore à saída.
Murmura um nome, e uns olhos de rapariga
fitam-se em seus olhos, e nenhum dos dois
treme de frio ou sente a chuva.

Joan Margarit