A vida alienada opõe-se à "boa vida", que também tem os seus pergaminhos conceptuais, não é uma mera expressão da linguagem corrente. Mas recentemente alguém se encarregou de reabilitar o conceito de alienação, tornando-o apto para uma "crítica social" actualizada. Trata-se do sociólogo alemão Hartmut Rosa, uma vedeta universal da sociologia desde que publicou em 2005 um livro sobre Aceleração (é precisamente esse o título), sobre a mudança das estruturas temporais na modernidade. A sua tese fundamental é a de que a alienação é determinada pela aceleração, nas suas três dimensões: a aceleração técnica, a aceleração das trocas sociais e a aceleração do ritmo de vida. A aceleração é, pois, um processo totalitário característico da modernidade e, progressivamente, foi dominando todos os aspectos da nossa vida. Ela é responsável por uma crónica falta de tempo, essa doença social do nosso tempo que nas suas manifestações mais graves se manifesta sob a forma de burn-out. A aceleração provoca uma perda de controlo sobre a nossa própria vida, e é por isso que Hartmut Rosa a considera a principal fonte de alienação, de desvio em relação a uma "boa vida". Enquanto membro da última geração da Escola de Frankfurt, o autor de Aceleração recupera esta questão de Adorno: como construir uma "boa vida" no seio da vida má, da vida mutilada, isto é, alienada.
António Guerreiro
Da aceleração
Publicado em 3 de Dezembro de 2021