Há momentos em que tudo o que desejo
é o silêncio e seu bálsamo. Momentos
que a própria música conspurcaria.
Mas há silêncio e silêncio. O que apeteço
não é o silêncio que alguma autoridade
decreta, seja direcção-geral, escola, igreja.
O silêncio que ambiciono há-de ser
sereno como nuvens e ervas bravas
e água em repouso e asas imóveis
de borboleta.
Há-de ser como o doce cansaço
que, depois que o vento tem passado,
fica a cintilar sobre as coisas
que o vento alvoroçou.

A.M. Pires Cabral