Variações Goldberg é Anne Teresa de Keersmaeker a regressar a Bach, mas também ao passado, o que de imediato a põe a comparar a bailarina que é com a que já foi. Envelhecer parece-lhe, para já, "um processo interessante", mas isso não significa que, como intérprete, não sinta falta da impulsividade e da energia da juventude, da capacidade de maravilhamento quase permanente, do risco pouco controlado.

Com a idade ganhamos uma noção melhor de flexibilidade, passamos a contar com o conhecimento que acumulámos, depuramos cada gesto, conseguimos prever com maior certeza que efeito terá ou a que movimento pode levar. Mas a idade também nos obriga a sermos mais disciplinados na alimentação, no exercício, obriga-nos a sermos mais cuidadosos no estúdio e fora dele. Comparar um bailarino jovem a um bailarino mais velho é como comparar um velocista a um corredor de fundo. Ambos trabalham com o corpo, mas põem-no a funcionar de maneira muito diferente, e o rendimento que obtêm também difere. O corpo responde a ambos, mas não diz as mesmas coisas.

Anne Teresa de Keersameker