Aceito toda forma de dor
Guardo os cacos, os fracassos
Coleciono toda espécie de trapo
baús, lustres, quadros
bibelôs despedaçados
Até navios desaparecidos
guardo
Aceito cores de todos os retalhos
todas as roupas vividas
chapéus de gente antiga
relógios, violas, rádios
E os desejos perdidos
debaixo dos guarda-chuvas
risos que ficaram presos
dentro dos porta-retratos
Aceito o que foi pisado
mutilado, abandonado
Aceito, como um oceano,
toda forma de naufrágio
Iracema Macedo
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Publicado em 6 de Março de 2022