E tudo isto é verdade,
Meu querido amigo?
Que a luz do relâmpago nos meus olhos
Faz as nuvens do teu coração explodirem e arderem,
É verdade?
Que os meus doces lábios são vermelhos como uma jovem e
ruborizada noiva,
Meu querido amigo,
É verdade?
Que uma árvore do paraíso floresce dentro de mim,
Que os meus passos soam como vinas debaixo de mim,
É verdade?
Que a noite derrama gotas de orvalho quando me vê,
Que a alvorada me rodeia com a luz das delícias,
É verdade?
Que o toque da minha face quente intoxica a brisa,
Meu querido amigo,
É verdade?
Que a luz do dia se esconde na escuridão do meu cabelo,
Que os meus braços abrigam a vida e a morte no seu poder,
É verdade?
Que a terra pode ser embrulhada na extremidade do meu sari,
Que a minha voz faz o mundo calar-se para me ouvir,
É verdade?
Que o universo é apenas eu e aquilo que me ama,
Meu querido amigo,
É verdade?
Que só por mim o teu amor tem estado à espera
Ao longo de mundos e eras, desperto e errante,
É verdade?
Que a minha voz, olhos, lábios te trouxeram o consolo,
A dado momento, do ciclo da vida após a vida,
É verdade?
Que tu lês na minha suave fronte a infinita Verdade,
Meu querido amigo,
É verdade?
Rabindranath Tagore, trad. José Agostinho Baptista