Sulca-te, o tempo, os olhos
e aprendes a rescrever o horizonte.

Ferido e porém ávido de ser,
como um poente de sangue e de turquesa,
como um presságio que ameaça cumprir-se,
precipitas-te contra o ar,
percorres o rosto de noite.

Navegas as ondas da luz,
respira, o mar inquieto,
como se desatasse a viver;
a sua pele acolhe-te como um retorno.

Atravessas com a nave antigas paisagens
que se tornam tuas também,
e esculpem-te.

Move-te, o coração, à viagem e à aventura,
cresce em ti o gesto de outros olhares.

Levas a bagagem de uma vida imaginária,
de sonhos fatigados,
que restauras sigilosamente.

Encarnas o desejo.
Não desistes.

Carles Duarte, Joaquim Feio