Darwin.
Ao que parece lia romances para descontrair.
Mas tinha as suas exigências:
não podiam ter um final triste.
Se calhava ler um desses,
em fúria o atirava para a lareira.
Verdade ou não –
estou pronta para acreditar.
Alcançando mentalmente tantos espaços e tempos
estava tão saturado de espécies extintas,
do triunfo dos fortes sobre os fracos,
das muitas tentativas de sobrevivência,
mais cedo ou mais tarde em vão,
que, pelo menos, da ficção
e do seu micromundo
tinha o direito de exigir um happy end.
Logo, eram obrigatórios: um raio por entre as nuvens,
os amantes de novo juntos, as famílias reconciliadas,
as dúvidas dissipadas, a fidelidade premiada,
as fortunas recuperadas, os tesouros desenterrados,
os vizinhos arrependidos da sua obstinação
o bom nome restituído, a ganância vexada,
as solteironas casadas com dignos pastores,
os intriguistas banidos para o outro hemisfério,
os falsificadores de documentos atirados das escadas,
os sedutores de virgens a correr para o altar,
os órfãos acolhidos, as viúvas reconfortadas,
o orgulho rebaixado, as feridas saradas,
os filhos pródigos convidados para a mesa,
o cálice da amargura derramado no mar,
os lencinhos molhados com lágrimas felizes,
de um modo geral, festas e bolos
e o canito Fido,
desaparecido no primeiro capítulo,
corre e ladra alegre pela casa
no último.
Wisława Szymborska, trad. Teresa Fernandes Swiatkiewicz