Vivemos num mundo interdependente onde, por mais fronteiras que se fechem, é inevitável coexistir entre diferentes. O contacto com desconhecidos, de origens, credos, classes, corpos, opções e estilos de vida diversos, é inevitável. Entre e fora de fronteiras. Podem-se criar muros, encerrar portas, desligar TV ou até a Internet, mas ainda assim música, cultura, imigrantes, corpos não normativos ou a voz de negros ou mulheres não se calarão em nome da dignidade e igualdade. O que há a fazer é aprender a viver com diferenças, e a desfrutar delas, se tivermos estratégias para uma coabitação o menos desigual possível, onde nos possamos entregar à amplitude do existir e à riqueza que advém daí.
Encerrados em casulos, criando uma ilusão de protecção, existindo apenas na companhia de semelhantes, não nos esforçando por traduzir outras formas de estar, maior será a dificuldade em alcançar modelos de coexistência. Na sofreguidão de termos sempre a casa arrumada segundo uma lógica por nós muito bem definida, temos dificuldade em aceitar a desordem que o existir também comporta. Quando se olha para a imensidão das estrelas, numa noite de céu cintilado, sabemos que nunca conseguiremos aceder a uma explanação total do que vemos. Não vale a pena investir muito tempo na impossível organização do infinito. Mais vale estar quieto. Abrir porta e janelas e deixarmo-nos maravilhar.