Corpo, corpo, porque me abandonaste?“Tomai, comei”, pois sim, mas quandoa química não chega para adormecermos,a que divindades havemos de nos acolhersenão àquelas últimas do passado soterradassob tanta chuva ácida e tanta investigação histórica,tanta psicologia e tanta antropologia?A memória, sem o corpo, não é ascensão nem recomeço,e, sem ela, o corpo é incapaz de nudeze de amor. Agora podemos calar-nossem temer o silêncio nem a culpaporque já não há tais palavras.Manuel António Pina
Separação do Corpo III
Publicado em 1 de Julho de 2022