Em que meditas tu
quando olhas para mim dessa maneira, deitada no sofá
diagonal ao espaço onde me sento, fingindo eu não te olhar?
Em que pensa o teu corpo elástico, alongado,
pronto a vir ter comigo
se eu pedir?
As orelhas contidas em recanto,
as patas recuadas,
o que atravessa agora o branco dos teus olhos: lua em quarto-crescente,
um prado claro?
E quando dormes, como noutras horas, que sonhos te viajam:
a mãe, a caça, a mão macia, o salto muito perfeito
e alto, muito esguio?
Onde: a noite sem frio que nos abrigará
um dia
e que há-de ser
(só pode ser)
igual?

Ana Luísa Amaral