tal como um gato envolto no seu pêlo
se senta na fria calçada da madrugada
ao pé da porta que seu dono ausente fechou à chave
tal como esse gato a miar debilmente enquanto olha para a alta fechadura
e depois ansioso para os poucos transeuntes que passam a
essa hora
quem sabe amigos do seu dono ou mesmo seu dono
quem sabe podendo abrir-lhe a porta inacessível
permitindo-lhe regressar ao calor de que a sua natureza
necessita
assim também eu na esperança de tão remotas
possibilidades
olhava e observava qualquer pessoa recolhido na calçada
até que por acaso tu passaste sensível a todos os animais
me olhaste como eu a ti
me disseste qual era a minha porta verdadeira
e te fizeste minha dona