Que me quereis, perpétuas saudades?
Com que esperança ainda m'enganais?
Que o tempo que se vai não torna mais,
e se torna, não tornam as idades.
porque estes tão ligeiros que passais,
nem todos para um gosto são iguais,
nem sempre são conformes as vontades.
Aquilo a que já quis é tão mudado
que quási é outra cousa; porque os dias
têm o primeiro gosto já danado.
Esperanças de novas alegrias
não mas deixa a Fortuna e o Tempo errado,
que do contentamento são espias.
Luís de Camões