Levo o lixo para a rua
embrulhado em papel e cuidado.
Ficam ali misturadas as sobras da vida,
cascas do tempo e recortes da alma.
Com tristeza as deixo no passeio
por serem restos de fruta, de comida,
e de literatura
com os quais
alguém se presumiu vivo ou creu existente.
E também porque, porventura sem que o saibamos,
alguém nos embrulhou
com papéis de céu, com nuvens de cuidado
e estamos na ponta do universo
e ninguém se despede de nós.
Levo o lixo para a rua, deixo-o no passeio,
e digo-lhe: Adeus.

Jorge Calvetti