Afastem-se, deixem-me passar,
venho de ir existindo e já sei que
irei empalidecer. Mereço
descanso, mas antes
quero olhar por detrás do horizonte
para não me ver sempre como árvore seca
que nada mais tem para dizer.

Não estorvem, não digam que há bom remédio,
deixem-me sentar no umbral
a ver passar as últimas pessoas. Os pássaros
estão a esconder a cabeça debaixo da asa.

Mandem alguém comprar pão,
não para já mas para amanhã
porque a minha fome derradeira
é do que ainda não vi.

Jorge Leónidas Escudero