A realidade, sim, a realidade,
esse relâmpago do invisível
que em nós revela a solidão de Deus.
É este céu que foge.
É este território adornado pelas borbulhas da morte.
É esta mesa larga à deriva
em que os comensais perduram ataviados pelo prestígio de
não estar.
A cada qual seu copo
para medir o vinho que acaba onde começa a sede.
A cada qual seu prato
para acabar com a fome que se extingue sem que jamais seja
saciada.
E a divisão do pão aos pares:
o milagre ao contrário, a comunhão somente no impossível.
E no meio do amor,
a queda entre um e outro corpo,
algo semelhante ao batimento sombrio de umas asas que
voltam da eternidade,
ao pulso da despedida debaixo da terra.
A realidade, sim, a realidade:
anúncio de encerrado em todas as portas do desejo.