Já tudo é tudo. A perfeição dos
deuses digere o próprio estômago.

O rio da morte corre para a nascente.

O que é feito das palavras senão as palavras?

O que é feito de nós senão

as palavras que nos fazem?

Todas as coisas são perfeitas de

nós até ao infinito, somos pois divinos.

Já não é possível dizer mais nada

mas também não é possível ficar calado.

Eis o verdadeiro rosto do poema.

Assim seja feito: a mais e a menos.


Manuel António Pina