Nietzsche explicou celebremente a tragédia como a síntese dos dois princípios que orientam a existência humana: o dionisíaco e o apolíneo. O primeiro, inspirado em Dionísio (o deus da embriaguez e da loucura), representa o reino da emoção, da confusão do homem com a natureza e da tirania do colectivo. O segundo, inspirado em Apolo (o deus da luz e da verdade), representa o reino da proporção, da lógica e do pensamento individual. Um traduz a confiança optimista de que tudo é possível; o outro, a reserva pessimista de que possivelmente tudo correrá mal. Os gregos eram demasiado racionais para ignorarem a força do irracional. Na tragédia explicaram que a tensão entre a civilização e a barbárie é constante e omnipresente.
Francisco Mendes da Silva