Falo daquilo que vejo, embora possas pensar que sou cego
seguindo as mãos – sim, toco as palavras nas suas superfícies
e utensílios.
A primeira palavra que os olhos viram, agora que a recordo,
parecia uma imagem – sim, um som desenhado como um fóssil
(falo de fóssil, mesmo
que ele demore muito a aparecer no que digo),
um som do tamanho de um azulejo: agora que me lembro que era uma palavra
que brilhava nos meus olhos ao vê-la
(ver uma palavra era uma planta muito diferente,
um oxigénio muito difícil de se respirar).
Sim, agora vejo que falo, embora possas pensar que sigo pelo tacto a escrita.
Daniel Faria