Atravessamos uma época de profunda amnésia. À semelhança da mítica merleta, em eterno voo sem ter onde pousar, movemo-nos hoje com tamanha pressa que a História não nos toca. E, contudo, que sucede a uma geração incapaz de vislumbrar o longo arco das epifanias e dos fracassos humanos? Nietzsche disse: “Removei os Gregos, juntamente com a filosofia e a arte, e que escadote vos resta pelo qual ascender à cultura?” Pois o que é a cultura senão um grande fio iluminador que liga os vivos ao laboratório antigo da experiência humana? Como havemos de suportar o vazio se apagarmos da memória colectiva a nossa herança moral, esse sonho ateniense de virtude e igualdade cívica, de par com os valores do Iluminismo que forjaram as democracias liberais que costumávamos acarinhar e defender? Uma vez eviscerada, a cultura corre o risco de redundar em pouco mais do que uma aglomeração artilhada de tropos e memes que unem uma tribo tão-só para excluir outras.

Jonathan Simons