As sociedades democráticas são frágeis precisamente porque estão expostas ao confronto de opiniões e de usos, e isso não é uma crítica, mas algo muito importante. Fragilidade e fraqueza não são a mesma coisa. As democracias são frágeis, mas é isso que as torna grandes. Num sistema democrático as coisas nunca são resolvidas de uma vez por todas; os valores e as normas estão constantemente sujeitos a discussão e a confronto — é isso que dá à democracia a sua vitalidade, que lhe dá a sua capacidade de invenção. Mas é uma faca de dois gumes, vive na ambivalência. Há questões que há 50 anos não eram questões políticas e que se tornaram questões políticas na democracia. A questão das mulheres, a questão da homossexualidade, a questão das formas de resistência ou de reivindicações que não são estritamente institucionais e toda a questão do direito à liberdade de expressão. E isto significa que há temas que não eram questões políticas, mas que agora fazem parte do perímetro dos assuntos públicos, e isso é a invenção da democracia. É muito importante. Claro que há pessoas que são fundamentalmente hostis a este tipo de invenção e que dizem que estes temas são do foro privado, ou que são individuais. Mas eu não penso assim. Penso que são questões fundamentais, que não são apenas questões de organização institucional, mas de democracia enquanto uma forma de sociedade ou como forma de convivência.
Myriam Revault D’Allonnes