Andei por tantos caminhos,
abri inúmeras veredas;
naveguei por cem mares,
e atraquei em cem margens.
Em toda a parte vi
caravanas de tristeza,
sombras negras de soberbos
e melancólicos bêbedos,
e pedantes embrulhados em robes
que olham, calam e pensam
que sabem mais, porque não bebem
o vinho miserável das tabernas.
Homens cruéis que caminham
e vão empestando a terra…
E em toda a parte vi
pessoas que dançam e brincam,
quando podem, e trabalham
a pouca terra que lhes coube.
Nunca, se chegam a um lugar,
perguntam onde chegaram.
Quando caminham, cavalgam
às costas de velhas mulas,
e não conhecem a urgência
nem em dias de festa.
Onde há vinho, bebem vinho;
onde não há, bebem água fresca.
São pessoas boas que vivem,
trabalham, passam e sonham,
e num dia como qualquer outro,
se deitam debaixo da terra.

Antonio Machado, trad. Bruno M. Silva