Em Lógica do Sentido, Gilles Deleuze dizia assim: “ética é estar à altura do que nos chega”. Dizer “o que nos chega” é uma forma interessante de conceber o que nos acontece. Não nós a chegar às coisas, a dispor delas e subjugá-las a uma ordem de funcionamento, mas, ao contrário, elas a chegarem e a termos de encontrar forma de lhes suportar bem a chegada. Estar à altura das coisas que nos acontecem exige essa disponibilidade para receber, ressentir e corresponder – dar o corpo, por outras palavras. Não às balas, nem ao manifesto, mas comparecendo, cada um disponível para ser atravessado pelo que chega. É uma forma de amor.