Pego num pedaço de silêncio. Parto-o ao meio,e vejo saírem de dentro dele as palavras queficaram por dizer. Umas, meto-as num frascotransformem num licor de remorso; outras,guardo-as na cabeça para as dizer, um dia,a quem me perguntar o que significam.Mas o silêncio de onde as palavras saíramvolta a espalhar-se sobre elas. Bebo o licordo remorso; e tiro da cabeça as outras palavrasque lá ficaram, até o ruído desaparecer, e sóo silêncio ficar, inteiro, sem nada por dentro.Nuno Júdice
A matéria do poema
Publicado em 3 de Agosto de 2024