Por vezes a paciência é estarmos densos
ouvindo e vendo a espessura da casa
Estamos na paz na nitidez das coisas
como se nada houvéssemos perdido
Entramos na grande solidão fraterna
do mundo mas já sem a pungência
das esquinas Tudo se define
com tal delicadeza que tudo é animal
e novidade imóvel da atenção
Concentramos o transe de estar sendo
em cada coisa o peso o contorno
na felicidade ignorante acesa
E é a perfeição na imperfeição
que se consuma na limpa sobriedade
dos objectos que fulguram suavemente
O mundo se arredonda dentro de casa
E é a presença no olvido e no silêncio
delimitando um tranquilo paraíso
Uma lenta rotação da mesa iluminada
adensa os volumes de sombra e de segredo
a as insinuações silvestres da madeira
A lâmpada leva-nos para um futuro antigo
A luz é para todos no sossego de um só

António Ramos Rosa