O amor não é tudo: não é comida nem bebida
Nem sono nem um telhado contra a chuva;
Não é escombro sobre o mar para quem se afunda
E flutua e afunda e flutua e afunda outra vez;
O amor não é capaz de encher de ar o pulmão ferido,
Nem de limpar o sangue, ou sarar o osso partido;
E no entanto, enquanto eu falo,
Há homens que se acercam da morte pela falta de amor.
Pode muito bem ser que numa hora tenebrosa,
Presa à dor e implorando libertação,
Ou acometida por forças além da minha vontade,
Eu pudesse ser levada a trocar o teu amor pela paz,
Ou a trocar a memória desta noite por comida.
Poderia muito bem ser. Mas eu não creio que o fizesse.

Edna St. Vincent Millay (1892-1950), trad. Bruno M. Silva