As tatuagens não são transitivas, não comunicam uma mensagem: reenviam para si mesmas, anulam todo o significado porque se esgotam na auto-referencialidade. Configuram assim um corpo barroco, tão exuberante na sua artificialidade que fica esvaziado de sentido: não é um corpo erótico, não é um corpo tecnicizado (isto é, um corpo, como o do cyborg, conformado às próteses, aos implantes, aos piercings, aos brandings, a toda a espécie de tecnologias próprias de uma condição pós-humana), é um “corpo utópico”, tal como Foucault o definiu: um corpo arrancado ao seu espaço próprio e projectado num outro espaço.

António Guerreiro