Ainda me recordo do delírio adolescente que causou em mim a descoberta sublime do romance e do conto como ‘espaços completamente livres’, onde tudo pode ser pensado e qualquer coisa pode ser dita. No romance é possível encontrar ateus, snobes, libertinos, adúlteros, assassinos, ladrões, loucos que atravessam planícies de Castela ou deambulam por Oslo ou São Petersburgo, rapazes em busca do sucesso em Paris, raparigas em busca do sucesso em Londres, cidades sem nome, países sem lugares, terras de alegoria e surrealismo, um homem transformado em barata, um romance japonês narrado por um gato, cidadãos de muitos países em simultâneo, homossexuais, místicos, proprietários e mordomos, conservadores e radicais, radicais que também são conservadores, intelectuais e simplórios, intelectuais que são também simplórios, bêbados e padres, padres que também são bêbados, os vivos e os mortos.
James Woods