Cedência do espaço Alguém me
Cedência do espaço
Alguém me disse, lendo os meus inofensivos posts, que conteriam uma dose quase letal de inconfidência. Não a detectei até agora mas, neste momento e não garanto que a título excepcional, vou trilhar esse caminho tentador, com gosto e convicção.
Sucede que sou muito privilegiada: tenho um querido amigo (na adolescência longínqua, seria "o melhor amigo", mas hoje sei que estas hierarquias são indizíveis), cuja inteligência e honestidade intelectual sem limites só rivalizam com a simpatia e a boa educação (e, sim, leitoras, ainda por cima é um homem lindo!). Falamos todos os dias, com muitos risos (de ambos), algumas reprimendas (minhas), imensa argúcia (dele). Tentei convencê-lo a ter um blog, mas ele, que lê vários com atenção, repondeu-me que tinha um único problema: era um exercício demasiado onanista para o seu gosto sobretudo interactivo; deu-me, contudo, permissão para publicar aqui dois mails que me mandou, e que seguem.
I
AS. Exª o Presidente do STJ
“Os juízes não se deixam pressionar pelos poderes políticos nem pelos média. Tenho a certeza disso porque enquanto juíz nunca senti isso.”
A frase é atríbuida a V. Exa. no Diário de Notícias de sexta,23 de Maio de 2003, e como até hoje não li nenhum desmentido, permito-me enviar-lhe
esta outra: “É falso que num sistema axiomático formal todas as proposições sejam verdadeiras ou falsas, existem proposições
‘cinzentas’”; ou: “Any adequate axiomatizable theory is incomplete.In particular the sentence "This sentence is not provable" is true but
not provable in the theory", Godel's First Incompleteness Theorem; ou ainda “In any consistent axiomatizable theory (axiomatizable means the axioms
can be computably generated) which can encode sequences of numbers (and thus the syntactic notions of "formula", "sentence","proof") the
consistency of the system in not provable in the system”, Godel's Second Incompleteness Theorem.
Com os meus melhores recados, J. M.
II
>
Minha Querida,
Eu sei que és muito sensível às questões da forma e mais ainda das deformidades, neste caso físicas, mas qual é a diferença, despidas as vestes,
entre um físico que nos perturba e o incómodo de degustarmos a imbecibilidade do outro? Não há diferença, ela radica apenas num préconceito judaico cristão,
nunca vi uma só representação de Cristo em que Ele fosse feio; esse aspecto, herda-o Judas.
Beijos
J.M.
Comentário: é evidente, pelo conteúdo de I, o que posso encontrar de esotérico, sendo a minha formação jurídica, no pensamento de J.M., mas o que o torna mais curioso é aplicar aquele tipo de saber à realidade social e política; quanto a II, trata-se da apreciação de J. M. em prol do post dos Infames que critiquei, ao que tudo indica, por estar imbuída de espírito judaico-cristão; ainda assim...(e pior do que isto também me acontece: há uma outra pessoa que, quando os meus pontos de vistas são demasiado rebeldes, me declara...pequeno-burguesa! Ele há cada cruz!).
AmAtA
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Publicado em 28 de Maio de 2003